quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Livro contando a vida do Beato José Luis Sánchez del Río


Todos os textos aqui publicados foram extraídos do livro “Nunca foi tão fácil ganhar o céu: Memória de José Sánchez del Río”, trabalho que fiz para honrar a história de coragem e  de determinação do menino-mártir José Luis, a quem reverencio por ser o santo do meu nome. Meus pais ao me chamarem José Luís, quiseram homenagear, primeiro, São José, o padroeiro do Ceará, depois, a um tio materno; Luís é uma referência ao meu avô paterno, Luís Alves de Lira, presença marcante em minha vida. Meu avô foi um homem simples, que não escondia suas emoções e encantou os dias de minha infância e dos meus irmãos.
Quando menino, eu costumava juntar as imagens de São José e São Luiz Gonzaga. Agora, recebi de presente protetor que une os dois nomes: José Luis (Sánchez del Río). Dele tratarei nesta breve memória, abordando um pouco da religiosidade do México e, em respeito ao Decreto Caelestis Hierusalem Civis, editado em 1634, por Sua Santidade o Papa Urbano VIII, às normas estabelecidas também pelo Papa Alexandre II e seus sucessores e, ainda, considerando o cân. 1.187 do Código de Direito Canônico, declaro que as informações constantes deste relato não pretendem antecipar o juízo da Santa Madre Igreja quanto à santificação do beato José Luis Sánchez del Río, posto que o culto que lhe é autorizado ainda não é universal.

José Luís Lira

Como cheguei a Sahuayo


A cidadezinha de aproximadamente 10.000 habitantes da época do Beato José Luis Sánchez Del Río é, na atualidade, um grande centro urbano. A imponente matriz de Santiago Apóstolo resiste ao tempo e guarda, no seu interior, a coragem e o heroísmo dos cristeros[1]
Na fria noite da festa de Reis de 2010, tão celebrada pelos mexicanos, recordando o Natal desta parte da América do Sul, com crianças alegres exibindo brinquedos novos, cheguei a Sahuayo.
A rodoviária é pequena. Poucos táxis. Choviscava. De repente, não mais que de repente, como dizia o Poeta, uma insegurança invadiu-me a alma, mas, de imediato, se restabelece a confiança. Não vim à toa, pensei. Saí da cidade do México, onde tive a emoção de contemplar o Sagrado Manto com Nossa Senhora de Guadalupe, cantando intimamente Coração Cristero, eu também quero morrer por Cristo, quero o meu sangue derramar, lembrando-me de José Sánchez del Río, José Luis, meu irmão de fé e de prenome.
Da rodoviária, vou ao Hotel que vi pela Internet. Sem o domínio completo do idioma, indico o endereço ao jovem taxista. Devidamente instalado, recebo um folder com informações do hotel e a estampa daquele que me fez andar mais de 500 quilômetros da Capital até aquela região centro-ocidental da República dos Estados Unidos Mexicanos.
No espelho do apartamento, a imagem de José criancinha, sustentando uma cruz, com a aposição de sua letra. É a primeira vez que vejo sua grafia e me invado de emoção.



Após o banho, no frio inverno mexicano, saio a procura de jantar. Indaguei ao recepcionista onde encontraria uma pizzaria. Ele me indicou o caminho, mas, decidi ver um movimento que acontecia ao lado daquela praça principal onde anônimos vendiam marcela e as tão tradicionais roscas dos reis.
Deparo-me com uma linda Igreja. A porta principal está fechada. Antes de entrar por uma das laterais, vou à frente da Igreja. A vista e a iluminação não ajudam e não consigo ler a inscrição no frontispício principal. Não importa. Decidi entrar na Igreja.
Vejo no altar principal, devidamente ornado com enfeites natalinos, onde acontecia a encenação da chegada dos reis magos. Ainda sem saber que era a Paróquia de Santiago Apóstolo, dirigi-me à entrada principal e, no antigo batistério, o mesmo onde foi batizado um menino chamado José Sánchez e local em que esteve preso pelas tropas do governo, encontrei uma vitrine com uma imagem em tamanho natural do mártir de Sahuayo, fotos suas, de seus pais, seus irmãos e de uma das cartas que escreveu em sua prisão.
Não consigo explicar a emoção, o que senti. Lembrei-me de mim, menino e indagando-me se eu teria a mesma coragem que ele.
Senti-me invadido nessa atmosfera de surpresa e de emoção. Também fui menino no país do Siarah Grande, em serras e sertões do nordeste brasileiro, tão parecidos às serranias de Sahuayo. Nem sei explicar porque fui visitar aquelas paragens. No fundo, senti-me acolhido e cheio daquela inquietude, na permanente aflição da busca de Deus. Igualmente me chamo José Luís; meus pais não colocaram meu nome em sua homenagem; no meu País pouco se conhece sua história, mas, eu estava ali, sem palavras, contemplando o que antes só ouvira falar. É real, digo para mim mesmo. Ele existiu e fez sua vida curta se tornar longeva e extraordinária,mítica, sagrado, por sua fé.
Resolvo percorrer a Igreja e as lágrimas quase embaçam os olhos quando contemplo em altar lateral ao principal uma grande tela com a imagem de San José Luis e, abaixo, uma urna com suas relíquias. As pernas tremulam e me prostro num genuflexório com a foto de meu santo, meu querido santo, de quem me sinto amigo.
A história prossegue!

Nunca foi tão fácil ganhar o Céu: Memória de José Sánchez del Río / José Luís Lira. – Sobral: Edições Universitárias, 2010. ISBN N° 978-85-7563-605-3.

© 2010 – by José Luís Araújo Lira

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[1] Cristero: Diz-se de quem, ao grito de “Viva Cristo Rei!”, no México, se rebelou contra o governo federal mexicano, nos anos de 1926 a 1929, durante o conflito entre o Estado Mexicano e a Igreja Católica.

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