Todos os textos
aqui publicados foram extraídos do livro “Nunca foi tão fácil ganhar o céu:
Memória de José Sánchez del Río”, trabalho que fiz para honrar a história de coragem
e de determinação do menino-mártir José
Luis, a quem reverencio por ser o santo do meu nome. Meus pais ao me chamarem
José Luís, quiseram homenagear, primeiro, São José, o padroeiro do Ceará,
depois, a um tio materno; Luís é uma referência ao meu avô paterno, Luís Alves
de Lira, presença marcante em minha vida. Meu avô foi um homem simples, que não
escondia suas emoções e encantou os dias de minha infância e dos meus irmãos.
Quando menino, eu
costumava juntar as imagens de São José e São Luiz Gonzaga. Agora, recebi de
presente protetor que une os dois nomes: José Luis (Sánchez del Río). Dele
tratarei nesta breve memória, abordando um pouco da religiosidade do México e,
em respeito ao Decreto Caelestis Hierusalem Civis, editado em 1634, por
Sua Santidade o Papa Urbano VIII, às normas estabelecidas também pelo Papa
Alexandre II e seus sucessores e, ainda, considerando o cân. 1.187 do Código de
Direito Canônico, declaro que as informações constantes deste relato não
pretendem antecipar o juízo da Santa Madre Igreja quanto à santificação do
beato José Luis Sánchez del Río, posto que o culto que lhe é autorizado ainda
não é universal.
José
Luís Lira
Como cheguei a Sahuayo
A cidadezinha de
aproximadamente 10.000 habitantes da época do Beato José Luis Sánchez Del Río
é, na atualidade, um grande centro urbano. A imponente matriz de Santiago
Apóstolo resiste ao tempo e guarda, no seu interior, a coragem e o heroísmo dos
cristeros[1]
Na fria noite da
festa de Reis de 2010, tão celebrada pelos mexicanos, recordando o Natal desta
parte da América do Sul, com crianças alegres exibindo brinquedos novos,
cheguei a Sahuayo.
A rodoviária é
pequena. Poucos táxis. Choviscava. De repente, não mais que de repente, como
dizia o Poeta, uma insegurança invadiu-me a alma, mas, de imediato, se
restabelece a confiança. Não vim à toa, pensei. Saí da cidade do México, onde
tive a emoção de contemplar o Sagrado Manto com Nossa Senhora de Guadalupe,
cantando intimamente Coração Cristero, eu também quero morrer por Cristo, quero
o meu sangue derramar, lembrando-me de José Sánchez del Río, José Luis, meu
irmão de fé e de prenome.
Da rodoviária, vou ao
Hotel que vi pela Internet. Sem o domínio completo do idioma, indico o endereço
ao jovem taxista. Devidamente instalado, recebo um folder com informações do
hotel e a estampa daquele que me fez andar mais de 500 quilômetros da Capital
até aquela região centro-ocidental da República dos Estados Unidos Mexicanos.
No espelho do
apartamento, a imagem de José criancinha, sustentando uma cruz, com a aposição
de sua letra. É a primeira vez que vejo sua grafia e me invado de emoção.
Após o banho, no frio
inverno mexicano, saio a procura de jantar. Indaguei ao recepcionista onde encontraria
uma pizzaria. Ele me indicou o caminho, mas, decidi ver um movimento que
acontecia ao lado daquela praça principal onde anônimos vendiam marcela e as
tão tradicionais roscas dos reis.
Deparo-me com uma
linda Igreja. A porta principal está fechada. Antes de entrar por uma das
laterais, vou à frente da Igreja. A vista e a iluminação não ajudam e não
consigo ler a inscrição no frontispício principal. Não importa. Decidi entrar
na Igreja.
Vejo no altar
principal, devidamente ornado com enfeites natalinos, onde acontecia a
encenação da chegada dos reis magos. Ainda sem saber que era a Paróquia de
Santiago Apóstolo, dirigi-me à entrada principal e, no antigo batistério, o
mesmo onde foi batizado um menino chamado José Sánchez e local em que esteve
preso pelas tropas do governo, encontrei uma vitrine com uma imagem em tamanho
natural do mártir de Sahuayo, fotos suas, de seus pais, seus irmãos e de uma
das cartas que escreveu em sua prisão.
Não consigo explicar
a emoção, o que senti. Lembrei-me de mim, menino e indagando-me se eu teria a
mesma coragem que ele.
Senti-me invadido
nessa atmosfera de surpresa e de emoção. Também fui menino no país do Siarah
Grande, em serras e sertões do nordeste brasileiro, tão parecidos às serranias
de Sahuayo. Nem sei explicar porque fui visitar aquelas paragens. No fundo,
senti-me acolhido e cheio daquela inquietude, na permanente aflição da busca de
Deus. Igualmente me chamo José Luís; meus pais não colocaram meu nome em sua
homenagem; no meu País pouco se conhece sua história, mas, eu estava ali, sem
palavras, contemplando o que antes só ouvira falar. É real, digo para mim
mesmo. Ele existiu e fez sua vida curta se tornar longeva e
extraordinária,mítica, sagrado, por sua fé.
Resolvo percorrer a
Igreja e as lágrimas quase embaçam os olhos quando contemplo em altar lateral
ao principal uma grande tela com a imagem de San José Luis e, abaixo, uma urna
com suas relíquias. As pernas tremulam e me prostro num genuflexório com a foto
de meu santo, meu querido santo, de quem me sinto amigo.
A história prossegue!
Nunca foi tão fácil ganhar o Céu: Memória de José Sánchez del Río / José Luís Lira. – Sobral: Edições Universitárias, 2010. ISBN N° 978-85-7563-605-3.
© 2010 – by José Luís Araújo Lira
Todos os direitos reservados.
Reprodução permitida, desde que citada a fonte.
[1] Cristero: Diz-se de quem, ao grito de “Viva Cristo Rei!”, no México, se rebelou contra o governo federal mexicano, nos anos de 1926 a 1929, durante o conflito entre o Estado Mexicano e a Igreja Católica.
Como é possivel conseguir esse livro??
ResponderExcluirTambém gostaria de adquirir o livro. Como faco?
ResponderExcluir