quarta-feira, 7 de janeiro de 2015


Há 4 anos, o encontro com o Beato José Sánchez del Río (Joselito)


Na fria noite da festa de Reis de 2010, tão celebrada pelos mexicanos, recordando o Natal desta parte da América do Sul, com crianças alegres exibindo brinquedos novos, cheguei a Sahuayo.

A rodoviária era pequena. Poucos táxis. Chuviscava. De repente, não mais que de repente, como dizia o Poeta, uma insegurança invadiu-me a alma, mas, de imediato, se restabeleceu a confiança. “Não vim à toa”, pensei. Saí da cidade do México,
onde tive a emoção de contemplar o Sagrado Manto com Nossa Senhora de Guadalupe, cantando intimamente Coração Cristero, eu também quero morrer por Cristo, quero o meu sangue derramar, lembrando-me de José Sánchez del Río, José Luis, meu irmão de fé e de prenome.

Da rodoviária, fui ao Hotel que vi pela Internet. Sem o domínio completo do idioma, indiquei o endereço ao jovem taxista. Devidamente instalado, recebi um folder com informações do hotel e a estampa daquele que me fez andar mais de 500 quilômetros da Capital Mexicana até aquela região centro-ocidental da República dos Estados Unidos Mexicanos.

No espelho do apartamento, a imagem de José criancinha, sustentando uma cruz, com a aposição de sua letra. Era a primeira vez que via sua grafia e me invadi de emoção.

Após o banho, no frio inverno mexicano, saí a procura de jantar. Indaguei ao recepcionista onde encontraria uma pizzaria. Ele me indica o caminho, mas, decidi ver um movimento que acontecia ao lado daquela praça principal onde anônimos vendiam marcela e as tão tradicionais roscas dos reis.
Deparei-me com uma linda Igreja. A porta principal estava fechada. Antes de entrar por uma das laterais, fui à frente da Igreja. A vista e a iluminação não ajudaram e não consegui ler a inscrição no frontispício principal. Não importava. Decidi entrar na Igreja.

Vi no altar principal, devidamente ornado com enfeites natalinos, onde acontecia a encenação da chegada dos reis magos. Ainda sem saber que era a Paróquia de Santiago Apóstolo, dirigi-me à entrada principal e, no antigo batistério, o mesmo onde foi batizado um menino chamado José Sánchez e local em que esteve preso pelas tropas do governo, encontrei uma vitrine com uma imagem em tamanho natural do mártir de Sahuayo, fotos suas, de seus pais, seus irmãos e de uma das cartas que escreveu em sua prisão.

Não consigo explicar a emoção, o que senti. Lembrei-me de mim, menino e indagando-me se eu teria a mesma coragem que ele. Acendi-lhe uma vela simbólica e recordei-me das tão lindas palavras de Mello Mourão quando chegou a Lucca, a região onde viveu São Gerardo Majella.
Dizia ele na ocasião, em novembro de 2000, envolto numa atmosfera de surpresa, ser

... um menino carregado de anos, do país do Siarah Grande, de serras e sertões do nordeste brasileiro, tão iguais aos sertões e às serras da Magna Grécia lucana, chamado por irresistíveis vozes de seu próprio passado, a visitar aquelas paragens. Parece que os anos não passaram para o menino inquieto, em sua permanente aflição da busca de Deus. É um menino igualmente chamado Gerardo Majella. O menino que também foi clérigo redentorista, de repente se reencontrou milagrosamente consigo mesmo no sofrido peregrino daquelas ladeiras. Depois de prostrar-se diante do altar da Igreja paroquial, onde se expõe a relíquia dos ossos de um longo dedo do santo da terra, as ruas entupidas de carros e emolduradas pela prosperidade do progresso não o despertam de seu sonho. E ele parece encontrar nas esquinas das assombradas casas brancas, metido na bela batina preta dos liguorios, o pequeno alfaiate chamado Gerardo Majella, que ainda anda por ali há mais de duzentos anos, como um fantasma encantado, saudando e alegrando as pessoas. (MOURÃO, Gerardo Mello. O bêbado de Deus: vida e milagres de São Gerardo Majella. São Paulo: Ed. Green Forest do Brasil, 2001, p. 25-26).

Senti-me invadido nessa atmosfera de surpresa e de emoção. Também fui menino no país do Siarah Grande, em serras e sertões do nordeste brasileiro, tão parecidos às serranias de Sahuayo. Nem sei explicar porque fui visitar aquelas paragens. No fundo, senti-me acolhido e cheio daquela inquietude, na permanente aflição da busca de Deus. Igualmente me chamo José Luís; meus pais não colocaram meu nome em sua homenagem; no meu País pouco se conhece sua história, mas, eu estava ali, sem palavras, contemplando o que antes só ouvira falar. É real, digo para mim mesmo. Ele existiu e fez sua vida curta se tornar longeva e extraordinária, mítica, sagrado, por sua fé.

Resolvi percorrer a Igreja e as lágrimas quase embaçam os olhos quando contemplo em altar lateral ao principal uma grande tela com a imagem de San José Luis e, abaixo, uma urna com suas relíquias. As pernas tremulam e me prostro num genuflexório com a foto de meu santo, meu querido santo, de quem me sinto amigo. Fui jantar e em frente estava a casa de uma pessoa que conhecia e era da família de Joselito, como me informou o garçom...

Acho que dormi (ou será que não?) e, no dia 7, natal dos ortodoxos, percorri a Sahuayo. Busco a Igreja, o Pároco... Deus-meu... Descrever esses acontecimentos me fazem voltar no tempo e sentir a mesma emoção. A cada descoberta eu agradecia a Deus e ao querido Joselito que para ali me levou...

¡Viva Cristo Rey! ¡Viva la Virgen de Guadalupe!

¡Viva José Luis Sánchez del Río!

José Luís Lira